Assim como você, eu também não nasci meditando. Comecei há alguns anos e no início, me deparei com questões que parecem ser comuns para todo iniciante dessa prática.
Antes de me interessar por meditação, não entendia direito o que era. Mas essa palavra já me trazia à mente a imagem de alguém sentado, de olhos fechados e fazendo nada. Como estou sempre envolvida em muitas coisas, não entendia como alguém conseguia ficar parado sem fazer nada, com tantas atividades divertidas e produtivas para serem feitas. Na minha inquietação natural, eu brincava dizendo “Se fosse eu, me estressaria de vez de ficar aí parada”.
Para minha felicidade, minha opinião sobre essa prática milenar é muito diferente hoje. É uma das minhas prioridades no meu dia – mas não foi assim desde o começo. Quando comecei a ouvir e ler mais atentamente sobre meditação, me interessei logo de cara. Comecei a frequentar aulas de yoga, baixei aplicativos e lia matérias relacionadas porque realmente tive uma identificação e atração por esse assunto. Eu sabia dos benefícios, entendia claramente que era bom para mim, mas a verdade é que a teoria falava bem mais alto que a prática.
Comecei a perceber que eu amava tudo relacionado a meditação, mas no fundo não queria meditar. Sinceramente, eu achava que era meio chato e que eu não conseguia fazer direito. Se eu fosse fazer sozinha em casa, fechava os olhos, começava a focar na minha respiração e em frações de segundos já estava em um labirinto de pensamentos sobre meu trabalho ou sobre o que não podia esquecer de fazer assim que abrisse os olhos.
Será que isso já aconteceu com você? Há grandes chances da resposta ser “sim”. Caso seja, pode dar um sorriso despreocupado porque isso é muito normal! A grande questão é você entender que ao tornar meditação um hábito, você só tem a ganhar em diversas áreas da sua vida e, por isso, vale muito a pena não se limitar com as desculpas que sua cabeça insiste em arranjar.
Nossa mente está acostumada a sempre controlar tudo e se sente desconfortável ao menor sinal de você querer acalmá-la, por isso aparece com muitos motivos e razões para você não meditar. A seguir você vai encontrar dicas para não cair nessas armadilhas e dar a sua prática de meditação o valor que ela tanto merece.
1. “Eu não tenho tempo”
Vamos lá, como lidar com a mais clássica de todas as desculpas?
Todos nós somos muito ocupados. Temos responsabilidades com nossas carreiras, compromissos, filhos, família, casa e vida social. Talvez seja irreal pensar que poderíamos passar um longo tempo do nosso dia meditando. Mas todos nós temos pelo menos 5 minutos para respirar. Segundo uma frase muito sábia de Ajahn Chah, um monge budista tailandês, “se você tem tempo para respirar, você tem tempo para meditar”.
É claro que você não vai começar se sentando por uma hora. Achar que você pode fazer isso logo de cara só vai levá-lo a experiências frustrantes, portanto comece devagar. E posso te adiantar que quando você começar a perceber os benefícios dessa prática na sua vida, você tende a priorizá-la e separar um tempo (sagrado!) só para ela.
No início, essa prática ainda não é um hábito para você, então é importante estabelecer um momento do seu dia para isso. Você prefere de manhãzinha para se preparar bem para o dia que vem pela frente ou no final dele para fechar com chave de ouro? Ou quem sabe uma pausa no meio do dia? Escolha o seu horário e comece com cinco minutos e depois pode ir aumentando aos pouquinhos. É possível até fazer a meditação em um minuto, que é para não ter desculpas mesmo.
Você pode também praticar técnicas de meditação de Mindfulness durante suas atividades e isso não vai atrapalhar seus afazeres do dia, como já expliquei em 5 maneiras de trazer Mindfulness para o seu dia. Além de ajudar a acalmar a mente, quando você foca sua atenção no momento presente, na atividade que está realizando, você tende a cometer menos erros e não esquecer pequenos detalhes que podem prejudicar o seu precioso tempo!
2. “Ah, é muito chato! Se eu tiver tempo para mim, eu vou ler algo ou relaxar!”
É normal a nossa cabeça ter um volume frenético de pensamentos, pulando de um a outro em frações de segundos. Simplesmente estamos acostumados a não desacelerar, vivendo com a vida e a mente agitadas. Quando temos um tempo para nós, geralmente preferimos nos perder nas distrações a nossa volta passando constantemente pelos canais da televisão, pelas redes sociais no celular ou folheando qualquer revista. Mas a verdade é que existe uma beleza surpreendente em acalmar nossa mente.
Quando você enxergar essa beleza, vai perceber que além de não ser chato, é um autocuidado essencial.
Meditação não é simplesmente sentar, fechar os olhos e ficar lá fazendo nada. Existem maneiras mais dinâmicas de praticar. Você pode cair em meditação dançando, ouvindo um mantra ou fazendo uma massagem em alguém, por exemplo. O ponto chave é só você ficar presente na sua experiência. Para isso, toda vez que sua mente começar a viajar, você gentilmente volta sua atenção para o corpo e para a troca que está fazendo com o mundo real.
Para te ajudar a desenvolver a prática de uma meditação menos dinâmica, é recomendável começar com aquelas que sejam guiadas. Você encontra algumas que eu gravei aqui. Vale lembrar novamente que é importante começar por pouco tempo.
3. “Eu não consigo!”
Há uma crença de que meditação seja esvaziar a mente, por isso é tão compreensível quando alguém fala “Eu não consigo”. De fato, é impossível se livrar dos pensamentos e se você tentar isso, sua mente sempre ganhará de dez a zero.
Eu entendo que não é fácil, a mente está acostumada a trabalhar a mil por hora, mas por isso é chamado prática – é algo que todos nós precisamos treinar.
Primeira coisa, é preciso ficar claro que meditação não é esvaziar sua mente. Você não vai sumir com seus pensamentos, mas vai observá-los. Diferente de como nossa mente funciona normalmente em que já se envolve rapidinho com o pensamento, relacionando e comparando com outras situações, na meditação você só observa. É como se desse um passo para trás e estivesse olhando para seus pensamentos em uma nova perspectiva ao invés de estar identificado com eles. Com isso, você não esvaziou a mente, mas pode acabar trazendo uma certa sensação de calma e bem-estar que é muito bem-vinda.
Em uma sessão de meditação, quando você percebe que sua mente está se preocupando com acontecimentos do seu dia, ou planejando alguma atividade para amanhã, é preciso simplesmente trazer sua atenção de volta para sua respiração, por exemplo. Quando você notou que sua cabeça foi embora, não há razões para se frustrar porque essa é justamente a prática. Sua mente IRÁ viajar, isso é fato. Quando você percebe isso mostra que você é bom e é capaz de meditar sim.
4. “Minha mente planejando e se preocupando parece muito mais útil que meditando.”
É claro que devemos viver no mundo real. Nós temos coisas para resolver, temos que nos organizar e planejar, mas não o tempo todo. Na meditação, pode parecer que você não está fazendo nada, mas na verdade está tendo um cuidado essencial com sua mente, o seu recurso mais valioso, e aí está a utilidade imensa dessa prática.
Uma estratégia que funciona para mim é separar uns dez minutos para me planejar. Nesse momento, foco toda minha atenção nos afazeres que tenho, faço uma lista deles, destaco as prioridades e durante o dia atualizo a lista.
Já estando tudo anotado, minha mente tem menos razões para se preocupar, ela já sabe que depois vou dar a devida atenção para essas tarefas. Assim, eu posso focar conscientemente em outras coisas.
Quando sento para meditar, minha mente ainda pode aparecer com algum lembrete de última hora como “ah, preciso comprar pão!”, eu mantenho um certo agradecimento, afinal ela checa tudo o tempo todo para que eu não fique em apuros – nesse caso, não passe fome. Mas gentilmente volto a focar na minha respiração. É importante manter essa gentileza e bondade com a nossa mente, porque no final ela só está tentando fazer o trabalho dela que é nos proteger do perigo e nos ajudar a sobreviver.
5. “Eu não sei por onde começar!”
Meditação é uma das atividades que podemos ter uma super preparação para tal, mas a pratica em si, vai ficando em segundo plano.
Comece! Você não se prepara para correr uma maratona só lendo artigos sobre corridas. Você não começa a gostar de dançar só vendo concurso de dança pela televisão. Com a meditação é a mesma coisa: você não vai começar a sentir os prazeres e benefícios se não começar a praticar.
Comece aos poucos, com períodos pequenos. Você pode se matricular em algum centro de meditação ou se escolher praticar em casa, prefira um lugar e um momento em que você não vá ser interrompido. E procure usar áudios de meditações guiadas, aí tudo que você tem a fazer é seguir a voz de instrução.
Espero que essas dicas te ajudem a lidar com as desculpas que nossa mente insiste em achar. É como uma criança que sempre ia para cama quando ela quisesse. Então, você toma uma decisão de que ela deve ir para cama toda noite às 8 pm. Como você acha que será a primeira noite? É provável que a criança grite, esperneie e faça de tudo para não ir para a cama. Se você ceder nessa hora, a criança “ganha” e tentará controlá-lo em todas as próximas situações. Se você, firmemente e de maneira calma, mantém que este é o novo horário de dormir, em duas ou três noites a nova rotina está estabelecida.
Com a sua mente também ocorre o mesmo. Ela não quer ser retreinada e se arma com qualquer coisa que ameace colocar o controle dela em xeque. Mas lembre-se que ao praticar uma forma de disciplina mental, você deixa de ser uma vítima dos seus próprios pensamentos para ser um mestre da própria mente.
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(texto inspirado na matéria de Sarah Rudell Beach)